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Quando uma bolsa de estudos redesenha sua trajetória

05 dezembro 2019 Carreira
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RE-parar, RE-utilizar, RE-desenhar, RE-ciclar, RE-fazer e RE-duzir são os seis “erres” conceituais de Isabelle Mesquita, bolsista brasileira em Paris.

Artigo do jornal ESTADÃO, escrito por Andrea Tissenbaum

A carioca Isabelle Mesquita, 31, está há quatro anos em Paris. Foi para lá fazer um duplo mestrado em gestão de moda e luxo e gestão internacional, oferecido pela Escola Superior de Comercio e Gestão Internacional e pela Paris School of Business. Bolsista integral, conta que não poderia ter estudado na França de outra forma.

Crédit : Isabelle Mesquita

“Venho das favelas do Rio de Janeiro. Estudar era difícil. Fui a primeira da minha família a fazer um curso superior e sempre fui bolsista. Sou filha de empregada doméstica e acho que minha mãe, inspirada pelo que via nas casas onde trabalhava, sempre me dizia “bora estudar, vai que melhora”. Fiz Química Industrial na Universidade Federal do Rio de Janeiro, o que me ajudou muito na hora de conseguir um emprego e começar a vida. Algum tempo depois, já trabalhando, senti que queria dar uma relaxada. Então fui estudar Moda à noite, na Universidade Veiga de Almeida – UVA, com bolsa do Prouni. Acabei me apaixonando e abri um atelier de recicláveis em Santa Teresa com um amigo. Em 2014, já formada, fui para Auckland, Nova Zelândia, onde fiz um curso de Textiles (têxteis) na Auckland University of Technology e aproveitei para melhorar meu inglês”, ela conta.

A artista e designer de moda brasileira, recebeu uma bolsa de estudos oferecida pelo grupo francês Studialis International e pela Rede Ilumno na América Latina, para alunos graduados pela UVA.

“Foi uma professora minha que falou que eu devia me candidatar. Deixei tudo para a última hora, porque não levava fé que ia dar certo, mas aconteceu. Tive que fazer a prova de inglês IELTS e preparar toda a documentação em tempo recorde. Fui ao Campus France já com a carta da universidade e consegui o visto tranquilamente. Cheguei em Paris com tudo pronto, trabalho e estudo. Trabalhava na própria escola, no setor de comunicação, dando assistência aos estudantes internacionais. Falar espanhol e inglês ajudou muito”, ela afirma.

Crédit : Isabelle Mesquita

Mas a mudança de Auckland para Paris foi bastante impactante. O estilo das cidades é bem diferente, e a jovem levou um tempo para se adaptar. “Eu não falava francês, fui pra lá sabendo apenas dizer Bonjour. Fiz o mestrado em inglês e a princípio não me dediquei muito a aprender o idioma porque não tinha intenção de ficar na França. Mas devagar, acabei me apaixonando por Paris. No mestrado, as experiências foram incríveis. Visitávamos empresas, viajávamos, participamos de ateliers em outros países, sempre ampliando a rede de contatos e a possibilidade de conhecer criativos de várias partes do mundo”.

Em seus passeios pela cidade, Isabelle conheceu o 59 Rivolli, um espaço de artistas, ocupado há mais de 10 anos, que se tornou um centro de referência do movimento artístico boêmio de Paris. “Fiquei encantada com o 59 Rivolli e, embora fazer parte daquele grupo parecesse meio distante, como eu sempre tento tudo, preparei um dossier e me candidatei à residência. Acabei sendo selecionada, e fiquei lá por sete meses enquanto estudava, uma experiência maravilhosa. O lugar é aberto ao público e recebe pessoas do mundo todo. Conheci muita gente no Rivolli, participei de entrevistas, ampliei minha rede e mostrei meu trabalho. Foi um lugar magnifico para fazer networking. Essa abertura de oportunidades me fascinou e fez com que a cada dia, prolongasse minha estadia em Paris. Me dediquei a aprender francês e fui melhorando devagar. Hoje me comunico bem, mas o que sei, aprendi na rua porque as escolas de francês, para mim, são muito caras”.

Isabelle Mesquita était présente lors du lancement de la campagne de communication Campus France Brasil à São PauloIsabelle Mesquita durante o discurso que deu a noite do lançamento da campanha de comunicação Campus France Brasil, em São Paulo. Crédito foto Valentine JUBÉ

Isabelle saiu do 59 Rivolli porque sua mãe ficou doente e precisou voltar para o Brasil por um tempo. Quando retornou à França, no ano passado, abriu oficialmente sua empresa e foi para o Espace 33, coletivo artístico um pouco menor. Lá tem seu atelier, o Isabelle Mesquita Studio, onde produz moda e arte. “RE-parar, RE-utilizar, RE-desenhar, RE-ciclar, RE-fazer e RE-duzir são os 6 “erres” conceituais do meu atelier. Nessa prática circular, trabalho com o “desperdício” transformando roupas, sapatos e acessórios em novas peças. Esse é o foco da minha marca. Quero incentivar o público a repensar o consumo de moda, motivando o desenvolvimento sustentável nos guarda-roupas”. 

Ela explica que quando você faz um mestrado na França, pode ficar por um ano após o término do seu curso para procurar um trabalho em sua área ou abrir uma empresa. Hoje ela está aplicando para a cidadania, porque é necessário esperar três anos após o mestrado ou doutorado para poder fazer essa candidatura.

Está na França como empreendedora e vive do seu negócio. Mas se você pensa que a trajetória dela foi fácil, Isabelle conta que a história não é bem essa. “Minha capacidade de resistência aumentou muito. Não foi fácil ficar na França esses quatro anos. Eu não tinha nenhuma ajuda financeira, e volta e meia eu não tinha dinheiro para a passagem ou para comer. Em muitos momentos tive vontade de desistir, mas uma força maior me levou adiante. Venci todas essas dificuldades e valeu. Queria criar minha marca em Paris e consegui.

Hoje tenho muito contato com a comunidade brasileira, compartilho meu trabalho, ofereço cursos de reciclagem de roupas e acessórios, participo da rede das mulheres. Sempre que posso estou ativa, aprendendo e ensinando. O mesmo com os franceses, a relação é boa. Dou aulas nas escolas de Paris com arte de recuperação, transformando lixo em arte. Tenho uma boa rede e sou feliz com essa conquista. Então se você tem vontade de seguir esse caminho, corra atrás. Procure sempre por bolsas de estudo, crie um projeto, demonstre que está engajado. Para uma pessoa que vem de uma classe social sem recursos, é importante estar comprometido com seus sonho e ativo. Sempre de olho em oportunidades que chegam, com muita dedicação”.

 

Artigo do jornal ESTADÃO, escrito por Andrea Tissenbaum




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